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Un retrato tragicômico da Rússia contemporânea

Resenha do filme « Star » (Rússia, 2014) por Mauro Mendonça Kato

A quarta longa metragem da diretora russo-armênia, Anna Melikian nos apresenta um retrato tragicômico da Rússia contemporânea. Contando com personagens e uma estrutura aparentemente «clichés», o filme consegue de maneira mais que eficiente prender a atenção do espectador durante os 128 minutos de duração.
As duas heroínas representam dois momentos distintos de um mesmo protótipo da sociedade não só russa, mas da cultura pós-industrial em geral. Se por um lado, Rita (Severija Janushauskaite) a mulher do Vice-Ministro (Andrei Smolyakov) e madrasta de Kostya (Pavel Tabakov), personifica a ideia do sucesso socioeconômico. A jovem Macha (Tinatin Dalakishvili) encontra-se no outro extremo, aceitando trabalhos precários e vivendo de modo igualmente precário, de modo a conseguir realizar as cirurgias plásticas necessárias para se tornar uma estrela.
Melikian põe rapidamente em evidência quais são as contradições existentes, tanto dos personagens, como da cidade de Moscou enquanto cenário de fundo. A crítica social é uma constante durante a progressão do filme. Felizmente, a autora consegue fazê-lo de modo inteligente e fluído. Algumas passagens mais cômicas estão bem inseridas na obra, evitando assim um ambiente excessivamente pesado.
A nível de estrutura, o filme possui algumas passagens mais incongruentes, que contudo, não afetam a apreciação global da obra. A fotografia é outro ponto forte do filme, um retrato moderno de Moscou é apresentado, não através de imagens aéreas ou grandes planos, mas através de uma perspectiva mais real, quase em primeira pessoa. Quanto ao trabalho de câmera, igualmente sólido, este é realizado sem exageros, as sequências «câmera na mão» são um bom exemplo disto.
O filme «Star» levanta questões de ordem sociais e económicas, mas também questões mais filosóficas, personificadas pelos personagens secundários do velho colecionador (Juozas Budraitis), que põe em evidencia a problemática da efemeridade da vida e o artista (Aleksandr Sheyn). Este último de modo semelhante ao Exit Through the Gift Shop: A Banksy Film (2010), onde o valor artístico (e monetário) da arte contemporânea é posta em causa.
Como já mencionamos acima, apesar de ter uma estrutura nem sempre 100% coerente, a qualidade técnica e um grupo sólido de atores (especialmente a interpretação de Severija Janushauskaite), tornam o filme «Star» em uma obra de qualidade e recomendável. Uma primeira boa experiência ao trabalho de Anna Melikian.

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