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Trio Madeira: Os melhores músicos de choro hoje em dia

— por Gabrielle Dupont de © PuntoLatino —

No dia 10 de dezembro, a Comunne de Onex recebeu o que muitos consideram, com razão, como os melhores músicos de choro hoje em dia, o Trio Madeira Brasil. O trio foi formado em 1996 por Zé Paulo Becker, Marcello Gonçalves e Ronaldo do Bandolim. O show foi lindo e o publico muito animado. Tivemos a sorte de ver no palco Gabriele Mirabassi, o grande clarinetista italiano, convidado do Trio Madeira Brasil. Menos conhecido que o samba, o choro é portanto uma grande musica. Não é necessário ser conhecedor da musica brasileira para se amarrar à esse lindo dialogo entre os instrumentos, a virtuosidade e a cultura do choro. Marcello Gonçalves dirigiu musicalmente o filme Brasileirinho de Mika Kaurismäki, que nos conta a historia da primeira musica popular brasileira, o choro. O filme é um grande sucesso, ele consegue transmitir o clima e o ambiente do Rio de Janeiro e do seu boêmio e cultural bairro da Lapa, berço da musica popular e dos seus músicos. A aconselhar a todos que se interessam ao Brasil e a sua música. [Foto: Gabriele Mirabassi, Gabrielle Dupont]
Show Trio Madeira Brasil e Gabriele Mirabassi, Genève no 10.12.2009


Marcello Gonçalves, Gabrielle Dupont, Zé Paulo Becker, Ronaldo do Bandolim 

Entrevista com Zé Paulo Becker e Marcello Gonçalves

 
– Como vocês se conheceram ? Como se formou o Trio ?
 
Zé Paulo Becker : Na verdade, nos temos formações diversas, eu comecei com música clássica e o Marcello também, Ronaldo já era mais inserido no ambiente de choro. Depois a gente começou a estudar o choro. Eu e Marcello fazíamos parte de um grupo de violões e fomos tocar em São Paulo no mesmo evento que o Ronaldo. Mas a gente já conhecia ele, já admirava o trabalho dele. Nesse final de semana a gente foi a algumas rodas de choro com o Ronaldo, e ai surgiu o convite da parte do Ronaldo de fazer um Trio, eu acho que foi em 1996.
 
– O filme Brasileirinho fez um sucesso enorme e ajudou muito a divulgar o choro na Europa, o que vocês acharam do filme? Vocês esperavam tanto sucesso?
 
Zé Paulo Becker : A gente sempre espera um sucesso porque a gente acredita muito nessa música, é uma música muito forte, muito rica, é uma música popular que dar vontade de dançar, é uma musica alegre e ao mesmo tempo é uma musica muito rica harmonicamente, melodicamente como o jazz. Tem um grande potencial, ainda mais a partir do momento que as pessoas começam a conhecer um pouco mais. Eu acho que o filme foi particularmente muito bem feito, a maneira como retratou o momento do choro, é tudo verdade aquela coisa dos encontros dos músicos no Rio. Então, eu acho que foi muito bom, ajudou o choro a ficar mais conhecido e espero que isso ai tenha a vida longa. E impressionante o numero de grupos de choro que a gente viu nascer de 5 anos para cá, ontem em Roma a gente estava num bar com um grupo de choro que toca toda quarta feira, eu acho que o filme tem ate um mérito nisso.
 
– O que você achou do show hoje à noite?
 
Zé Paulo Becker : Maravilhoso, o som muito bom, achei o publico caloroso, gostei muito, todo mundo participou.
 
– Você sente uma diferença entre o publico daqui e o publico brasileiro ? Porque na Europa as pessoas não conhecem muito bem o choro, não é tão famoso como o samba e a bossa nova …
 
Zé Paulo Becker : Mas isso acontece também no Brasil quando você sai um pouco do grande centro, do Rio de Janeiro. Você sempre se sente com a missão de estar levando uma música de qualidade, de estar representando a cultura do seu pais então você sente uma responsabilidade nisso. Aqui a gente sente um pouco isso também, a gente traz uma coisa nova, apesar de ser uma musica que tem uma tradição e tal. A gente sente que esta trazendo uma novidade e isso é gostoso, essa sensação de estar proporcionando uma coisa nova. 
 
– Qual o impacto do choro hoje no Brasil ? O jovens por exemplo, se interessam, querem aprender a tocar?
 
Zé Paulo Becker : Você viu no filme aquela escola de choro ? A escola portátil  tem um papel muito importante, você vê muitos jovens tocando choro, querendo fazer uma musica mais refinada, não só choro, samba também, enfim, aumentou o publico e as pessoas se interessaram. Mas é difícil viver de música, como em qualquer lugar, requer muito estudo, muita perseverança, mas eu acho que aumentou muito o publico de jovem. Ha uns 20-30 anos atrás o choro era associado a uma musica velha de velho e hoje não é mais. Inclusive na Lapa eu toco num bar toda segunda feira, se chama Semente. E bacana de ver porque o pessoal dança, é uma musica da juventude. Eu realizei meu sonho, porque na minha época de colégio só tocava rock, só tinha festinha, só tinha rock, ai eu toco as vezes no clube dos Democráticos ou no Semente, a gente toca choro a noite inteira e as pessoas dançam como se fosse um show de rock, é uma coisa pros jovens, tem uma comunicação, isso eu acho muito bacana.
 
– No filme Brasileirinho, Luciana Rabello e inclusive você, falam do choro como a escola dos músicos brasileiros, parece que é uma etapa importante pra tocar musica popular brasileira, você pode explicar porque?
 
Zé Paulo Becker : O choro tem vários elementos importantes, a coisa do ritmo, do acompanhamento, e do que a gente chama de « levada » que é o groove da mão direita. O musico que quer tocar choro ele precisa ter um ouvido, não é só a parte técnica, que também é desenvolvida, mas você precisa tocar de ouvido. Eu acho que grandes músicos passaram pelo choro, ouviram choro, tocaram choro em algum momento da vida como Tom Jobim, Villa Lobos, você vê a influencia do choro nas obras deles. E claro que existe varias correntes, você pode tocar jazz, musica clássica, mas o choro, ele traz muita bagagem da musica brasileira. Eu aprendi a tocar musica popular através do choro, alem do que o choro tem uma coisa social muito boa, é uma musica que agrega, ela é feita pra ser tocada com outra pessoa, ninguém toca choro sozinho em casa, você só toca com pelo menos três ou quatro pessoas.
 
– Porque o dialogo entre os instrumentos é uma coisa muito importante no choro, não é?
 
Zé Paulo Becker : E exatamente, e isso é muito bom, muito social. A primeira vez que eu vi uma roda de choro eu pensei “eu quero participar disso”, sabe, eu tenho que ser capaz, tenho que participar. E encantador, acaba representando um desafio.
 
– Tem muita improvisação no choro, isso é só em rodas ou vocês fazem também durante os shows ?
 
Marcello Gonçalves : O Trio faz, mas não é a nossa proposta de fazer um show inteiro improvisado. Nossa proposta básica é fazer um show arranjado. Mas quando a gente toca com Mirabassi ou um outro musico a gente acaba fazendo mais improvisação. .
 
– Vocês tocaram composições do Zé Paulo Becker, mas na maioria foram musicas dos grandes mestres do choro. Hoje em dia no Brasil tem novos compositores de choro?
 
Marcello Gonçalves : Muitos, muitos mesmo …
 
Zé Paulo Becker : Cada vez mais, inclusive na escola portátil tem um curso de composição. Vai sempre uma garotada de 17, 18 anos, alem de tocar pra caramba, eles ainda vão para esse curso, eles não tocam só os clássicos.
 
– Qual é a melhor lembrança da carreira de vocês?
 
Zé Paulo Becker : As primeiras vezes … não é que depois você deixa de valorizar mas você se acostuma e aquela emoção não é tão forte como a da primeira vez. Então, uma das minhas melhoras lembranças são as primeiras vezes que a gente foi tocar em outros países e foi tocar vendo o filme Brasileirinho e ver a receptividade das pessoas, o encantamento. As pessoas estavam conhecendo não só uma musica, mas uma cultura. Isso foi muita alegria pra gente, é muita emoção.
 
Marcello Gonçalves : A emoção que eu lembrei foi a gente entrando na sala Cecília Meireles, que é uma sala importante. A gente fez o lançamento do disco lá, tava lotado, eu lembro da emoção da gente entrando.
 
– O que vocês tem escutado atualmente?
 
Zé Paulo Becker : Eu estou escutando um disco de samba, com musicas do Pedro Amorim, que é um musico de choro que é parceiro do Paulo Cesar Pinheiro que faz letras. E muito bonito o disco. E uma coisa que acontece muito também, essa troca entre músicos de choro e o samba, isso acaba influenciando.
 
Marcello Gonçalves : Eu tenho ouvido o Roque Ferreira com quem temos projetos, chegando no Rio agora a gente vai gravar um disco só com musicas do Roque Ferreira que é um compositor da Bahia e com a Roberta Sá. Ai eu tenho ouvido muito esse repertorio. Saiu um disco da Maria Betânia agora e gostei muito. O que eu sempre ouço é Bach, Chopin.
 
– Com quem vocês sonhariam de trabalhar?
 
Zé Paulo Becker : Só pode ser vivo ?
 
– Vivo ou morto …
 
Zé Paulo Becker : Então seria o Tom Jobim…
 
Marcello Gonçalves : é Tom Jobim, Vinicius de Moraes …
 
– Quais são o seus projetos agora?
 
Marcello Gonçalves : Agora a gente vai fazer um disco com a Roberta Sá, nos vamos gravar depois do carnaval, e estamos em processo do nosso novo disco.
 
Zé Paulo Becker : Nos vamos tocar toda terça feira de Janeiro no Rio pra começar “em aberto” pra depois gravar o disco com esse mesmo repertorio com a Roberta Sà.
 
Marcello Gonçalves : Porque a idéia desse disco é gravar ao vivo, todo mundo junto.
 
– Querem falar alguma coisa a mais?
 

Marcelo Gonçalves : Toda vez que a gente veio aqui foi interessante e foi diferente, porque a gente já esteve na Suíça italiana e também em Lausanne e em Nyon,  é sempre legal e sempre diferente, então a gente adora, queremos voltar!    

Para PuntoLatino © Gabrielle Dupont

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